Moro há mais de dez anos no Centro Histórico de Jundiaí.
E eu adoro. Mas com ressalvas.
Tem vida, comércio, cultura, meu apartamento imenso e antigo, com uma vista de tirar o fôlego. Projeto de Vasco Venchiarutti.
Tenho ótimos vizinhos de todas as idades. Sim: os mais novos descobriram os grandes e antigos prédios e a delícia de ter espaço.
Mas nem tudo são flores. Na verdade, é muito frustrante ver tanto, mas tanto potencial não ser utilizado de uma forma mais produtiva.
Tem vida? Sim. Isso é bom. Há uma sensação de segurança enorme. Polícia e nossa Guarda Municipal estão presentes e atuantes. Mas é ruim porque o excesso de pessoas atrapalha o trânsito, eleva o valor dos estacionamentos. Ruim porque a quantidade de lixo ali produzida é estratosférica. Caçambas e lixeiras lotadas que são esvaziadas apenas uma vez ao dia. Lembro que, quando mudei, a limpeza era constante (até havia um carrinho com escovões mecânicos varrendo todo o calçadão) e o recolhimento de lixo era feito duas vezes ao dia: no começo da manhã e início da noite. Hoje é sempre tarde da noite. Um barulho ensurdecedor. Entre as caçambas um cheiro terrível de urina, que toma conta, de forma especial, da esquina da Padroeira com a Rosário.
Há comércio? Sim. Isso é bom. Pode-se fazer comprinhas quando se quer, mas a oferta é cada vez menor. Muitas lojas fechadas, para alugar. Mas pululam óticas. Nunca vi tantas. Uma ao lado da outra. Restaurantes bons? Conto no máximo dois. Dadá, Samir, Pauliceia, Haiti... essas pérolas gastronômicas ficaram no ado.Há cultura? Sim. Isso é bom. Mas se você não for até os espaços culturais para se informar sobre a programação, nada feito. Isso para mim é fácil, mas e para o resto da população?
Meu apartamento é imenso e antigo, projeto de Vasco Venchiarutti. E isso é bom só para mim... até certo ponto. Meu prédio não tem garagem. Preciso deixar o carro na rua. Preciso pagar parquímetro mesmo morando lá. Não há vagas de carro, mas sobra espaço para táxis. Alguns valorosos resistem ali, mas não precisam de tanto espaço para estacionar.Tenho ótimos vizinhos. Sim, isso é bom. Mas eles estão tão insatisfeitos como eu.
Entra ano, sai ano, governos vão e vêm, e a palavra revitalização aparece na boca dos políticos. Mas só na boca. Nada desde Miguel Haddad e Ary Fossen foi efetivamente feito. Bigardi ensaiou o uso de parklets e mobiliário de madeira feito pelos próprios cidadãos. Na teoria, foi legal. Mas faltou combinar com os russos: se comerciantes odiaram perder visibilidade de suas fachadas, os clientes não queriam perder vagas de carro. E as oficinas de construção de mobiliário urbano foram mal divulgadas. Resultado: as pessoas não foram convencidas e educadas a compreender a inovação proposta.
Mas como mudar o Centro Histórico?
Tendo vontade. Simples.
Criando uma zeladoria real, que cuide dos jardins ao redor da Catedral; que retire o monumento ao Descobrimento (que já teve uma importância naquele local mas que hoje se transformou em entulho e mictório); que determine o recolhimento constante de lixo. Que fiscalize com rigor ambulantes e pretensos artistas de rua (aqui trato dos que se denominam músicos, mas que só fazem ruídos irritantes e não pensam nos que vivem no entorno. Ah, e falando de poluição sonora, intensificar a fiscalização em lojas que colocam o som nas alturas ou locutores proclamando promoções). Que incentive, junto ao poder público, apoio a restaurantes e lanchonetes na Praça Gov. Pedro de Toledo. Que ajudem os que moram no centro, criando um selo que libere seus carros do pagamento de parquímetro (não tenho culpa de não ter vaga de garagem em meu prédio).
Ainda espero ver uma dessas coisas em vida.
Samuel Vidilli é cientista social
Comentários
1 Comentários
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CELSO AUGUSTO DE SOUZA 05/06/2025O CENTRO DA CIDADE DE JUNDIAÍ É UMA VERGONHA PARA A CIDADE. EXISTE UMA RIDÍCULA ESTRUTURA METÁLICA TODA SUJA E MAL CONSERVADA, CALÇADÃO NÃO TEM BANCOS PARA SENTAR, DURANTE A NOITE MORAM MORADORES DE RUA E NO DIA SEGUINTE A CIDADE FEDE MIJO., MUITO LIXO JOGADO. SEM SEGURANÇA PARA ANDAR PELO CENTRO DE JUNDIAÍ, NÃO HÁ SANITÁRIOS PÚBLICOS.