OPINIÃO

Mercado de trabalho: a visão do trabalhador


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Na semana ada, apresentamos a visão dos industriais do mercado de trabalho, a partir da pesquisa “Rumos da Indústria Paulista: Mercado de Trabalho”, da Fiesp. Segundo o levantamento, 77% dos empresários tiveram dificuldades para contratar funcionários ao longo do último ano. Neste texto, abordaremos a visão dos trabalhadores sobre o mesmo tema.

Para tanto, Fiesp e Senai-SP contrataram o Instituto Locomotiva que realizou a pesquisa “Transformações no Mundo do Trabalho e Desafios para Atração de Mão de Obra”. Foram feitos dois levantamentos no estado de São Paulo: um quantitativo com 1.503 entrevistas, e outro qualitativo, no qual foram ouvidos ex-alunos do Senai-SP – um grupo que trabalha na indústria, outro que segue no mercado formal, mas em outro ramo, e um terceiro de autônomos.

O dado que salta aos olhos é a crise de atratividade que a indústria atravessa junto aos jovens. Outrora símbolo de estabilidade e prestígio, o setor perdeu apelo, embora continue oferecendo benefícios concretos como estabilidade, proteção social e oportunidades de qualificação.

Em uma geração, o interesse por atuar na indústria caiu mais da metade. Se antes 24% optariam pelo setor, hoje apenas 11% têm esse desejo. Mas o que está por trás dessa guinada? A resposta descortina um cenário no qual novos valores se contrapõem à rigidez da CLT: autonomia, flexibilidade, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, entre outros.

Hoje, o maior sonho profissional da maioria das pessoas ocupadas, segundo a pesquisa, é empreender. Trabalhar por conta própria tornou-se uma aspiração majoritária: é o desejo de 58% dos entrevistados, contra 45% da geração de seus pais.

Metade dos entrevistados concorda que o trabalho com carteira assinada deixou de garantir segurança para o futuro, enquanto quase dois terços enxergam no empreendedorismo um caminho legítimo para conquistar qualidade de vida.

A era digital, impulsionada por influenciadores, coaches e histórias de sucesso relâmpago, fez com que, para um expressivo número de jovens, as promessas (muitas vezes ilusórias) do empreendedorismo soassem como música aos ouvidos. Segundo a pesquisa, não são pessoas mal informadas sobre a CLT — estão, na verdade, fazendo escolhas coerentes com suas realidades e prioridades.

Tanto que 41% dos trabalhadores por conta própria estão plenamente satisfeitos com o trabalho, perdendo apenas para os funcionários públicos (47%). No setor privado, os mais satisfeitos são os industriários (27%), seguidos dos setores de construção (23%), serviços (21%) e comércio (11%). Na média, apenas 27% dos trabalhadores paulistas estão completamente felizes com o trabalho.

É um desafio reconectar a indústria aos desejos das novas gerações, mas o Locomotiva trouxe alguns insights. O instituto detectou que é importante fisgar o jovem durante ou logo após o término do curso técnico no Senai-SP. Se ele começa a trabalhar em outro setor ou como autônomo, dificilmente retornará para a indústria.

Para combater a percepção de que valor pago não compensa a perda de benefícios atuais e futuros, como aposentadoria, a sugestão é fazer uma avaliação constante das remunerações e comunicar de forma efetiva os benefícios diferenciadores na transição ao primeiro emprego.

Por fim, outra recomendação é criar planos de carreira na empresa, uma vez que prevalece a percepção de que não há caminhos de crescimento profissional, bem como desenvolver estratégias integradas de qualificação, retenção e reconhecimento dos funcionários.

Vandermir sconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP ([email protected])

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