
Hoje trago à baila uma reflexão recorrente e necessária: as dificuldades das pessoas homoafetivas para “saírem do armário”. Reuni coletâneas de apontamentos/anotações em sala de aula e opiniões de profissionais sobre o tema.
Ainda nos dias de hoje, a homossexualidade é considerada um comportamento inadequado, antinatural. Citando Dráusio Varela, “a homossexualidade é uma ilha cercada de preconceito e ignorância por todos os lados”. O fato de manter relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo deveria ser algo natural se levarmos em conta o respeito que o ser humano deve ter ao próximo. A homossexualidade sempre existiu ao logo da história da humanidade, mas ainda assim, continua gerando polêmicas, discussões acirradas, preconceituosas e violências contra seres humanos com orientação sexual diferente da maioria.
O sociólogo Fran Yan Tavares afirma que discussões sobre homossexualidade costumam ser influenciadas por ignorância, medo e fuga, colidindo com dogmas morais e religiosos e contrastando com intuitos políticos. Segundo ele, estamos inseridos em uma sociedade profundamente marcada pela cultura autoritária, elitista e violenta, sobretudo, espelhada na figura masculina e heterossexual.
Ao longo dos anos, os casais homossexuais conquistaram importantes direitos: herança por morte do parceiro, o a plano de saúde, pensão alimentícia, etc. No entanto, essas conquistas não podem ser compreendidas como concessão do Estado e, sim, fruto da mobilização e reivindicação do direito dessas pessoas.
Muitos indivíduos homoafetivos não têm coragem de se assumirem para a família e/ou para os amigos e am a ter uma vida dupla: para os amigos héteros e familiares são héteros, mas para si mesmo são homossexuais. Outros, quando percebem que a orientação sexual é apenas um detalhe, que é “uma coisa tão pequena”, que é uma parte de um todo, que é a vida, conseguem se “revelar”. Alguns têm o privilégio de terem uma família compreensiva e acolhedora onde há o respeito e aceitação do que eles são.
Por falar em respeitar e aceitar, gosto sempre de ressaltar a diferença ente dois conceitos muito usados por familiares e homofóbicos para esconder ou atenuar o preconceito contra os homossexuais. Uma coisa é você respeitar o ser humano homoafetivo (quando respeitam...), outra situação é aceitar a homossexualidade como algo natural, sem julgamentos. É necessário entender que homossexualidade não é uma anormalidade. Não se trata de opção, de falta de fé, de falta de vergonha na cara, de frescura, de modismo, etc., etc. Esses comentários ainda acontecem com frequência na sociedade: toda e qualquer relação que foge do padrão estabelecido e construído historicamente ainda é repudiada, através da discriminação, da violência e do riso. Afinal, as piadas falam muito sobre os preconceitos que carregamos e reproduzimos, explica o sociólogo Tavares.
Muitas pessoas decidem buscar ajuda/apoio de médicos, psicólogos, terapeutas sexuais para receberem ajuda e/ou orientação de como lidar com a dificuldade ou indecisão de contar ou não contar para a família e os amigos.
Há casos, também, onde o(a) próprio(a) homossexual é preconceituoso(a) por não saber lidar com a própria orientação sexual. Nestes casos, mostramos para essas pessoas a necessidade que elas têm que, primeiro, aprender a conviver com essa sexualidade e, depois, entender que o diferente não é desigual.
É preciso deixar claro, de uma vez por todas, que homossexualidade não é doença nem desvio de personalidade como se acreditava há décadas atrás. E assim sendo, não há o que tratar, não há o que curar”.
Luiz Xavier é psicólogo clínico e terapeuta sexual.