ARTIGO

Ameaças machistas e misóginas não me intimidam

Por Professora Bebel |
| Tempo de leitura: 3 min

Nesta semana eu própria e outras deputadas estaduais de esquerda e progressistas de São Paulo recebemos e-mails ameaçadores contra nossas vidas, sendo algumas de nós citadas nominalmente. O fato é grave e demonstra o quanto o ambiente político e social brasileiro se deteriorou após o golpe que tirou a presidenta Dilma Rousseff do governo federal e mais ainda durante e após os 4 anos de gestão de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.

O machismo estrutural, infelizmente, é uma característica da sociedade brasileira. O patriarcalismo sempre esteve presente, tanto na vida privada, quanto na vida social. Os direitos políticos demoraram a chegar para as mulheres brasileiras e, ainda assim, sempre cerceados por todo tipo de preconceitos e obstáculos intencionalmente edificados em seus caminhos. Muitas mulheres, inclusive, dominadas pela preponderância do machismo, são eleitas por partidos de direita e defendem pautas diametralmente opostas àquelas reivindicações que as mulheres fazem e necessitam para ter direito a qualidade de vida e pleno exercício da cidadania.

Com a maior presença da extrema direita, inclusive grupos claramente fascistas, na política institucional e até mesmo nos espaços de mobilização e disputa social, o machismo e o patriarcalismo não apenas voltaram a se traduzir em legislações, sobretudo em alguns Municípios e Estados, como também vem se associando a uma crescente violência, que se abate sobre as mulheres quando elas colocam fim a um relacionamento abusivo – muitas vezes resultado em feminicídio – quando resistem às investidas e agressões de seus companheiros e maridos, quando se manifestam e se mobilizam por direitos e em diversas outras situações.

No caso presente, manifesta-se a misoginia, o ódio patológico de alguns homens contra mulheres que se destacam e que ousam ocupar espaços de liderança na sociedade, seja na esfera política, seja no âmbito empresarial, cultural e social. Na política, lamentavelmente, vem se generalizando a chamada violência política de gênero, nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Legislativas e também no Congresso Nacional. Em alguns casos, os autores dessas violências não apenas não se intimidam com a transmissão dessas agressões e falta de decoro parlamentar pelas emissoras legislativas e redes sociais como, mais que isso, transformam essas agressões em propaganda de sua atuação.

Não podemos aceitar e normalizar essas situações. Não apenas as mulheres, não apenas aquelas diretamente atingidas, mas toda a sociedade, mulheres e homens, precisam se insurgir contra esta violência, seja ela no âmbito da política, seja na esfera social e familiar. A democracia, a vida em sociedade, pressupõe respeito entre todas e todos, convivência, tolerância, respeito à pluralidade, diversidade, ideias diferentes. Nunca, jamais, a violência poder ser tolerada como instrumento de disputa política.

Não podemos minimizar as recentes ameaças. Não podemos sequer itir que exista espaço para que algo assim se concretize. Agradeço, portanto, as providências tomadas pelo presidente da Assembleia Legislativa, ao comando militar e à polícia civil da casa pelas providências tomadas no sentido de investigar a origem dessas ameaças, assim como a entrada da Polícia Federal neste processo. Os responsáveis precisam ser todos identificados, processados e punidos de acordo com a lei.

Agradeço as manifestações de solidariedade que tenho recebido e, tomando as precauções necessárias, não recuarei um o sequer na minha luta, na minha atuação parlamentar. Ameaças não me intimidam nem vão abalar meu compromisso com a luta pela educação, serviços públicos de qualidade, direitos do funcionalismo, da população e de todos os segmentos oprimidos da sociedade.

Professora Bebel é Deputada Estadual – PT e segunda presidenta da APEOESP.

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